SERMÃO DAS SETE PALAVRAS
A
linguagem da cruz é loucura para aqueles que se perdem (1 Cor 1, 18)
1.
Introdução
Há
uma tradição na Igreja de proferir um sermão sobre as sete frases que Jesus
disse enquanto estava na cruz. A Sexta-feira da Paixão é a data escolhida para
refletir sobre a morte de Jesus. As reflexões que se seguem têm como objetivo
exclusivo nos inserir no cenário da execução de Jesus e de seu significado
teológico. A cena do Filho do Homem Crucificado constitui o drama fundamental
da conversão dos gregos e dos judeus na compreensão do Apóstolo Paulo: A
loucura da Cruz. “Com efeito, a linguagem
da cruz é loucura para aqueles que se perdem, mas para aqueles que se salvam,
para nós, é poder de Deus” (1 Cor 1, 18). A apresentação do Cristo vitorioso
era motivo de empolgação nas pregações da Igreja primitiva, mas quando se
falava da cruz era escândalo e loucura. Os judeus jamais aceitariam que o filho de
Deus morresse crucificado, os gregos achavam loucura porque não aceitavam como
um Deus podia se humilhar assim.
Os
gregos estavam acostumados com deuses com hábitos humanos, mas sempre cheios de
vitória, imunes ao sofrimento. A mensagem de salvação escandaliza o mundo
antigo ao anunciar Jesus, o Filho de Deus, que experimentou a morte de forma
humilhante. A crucificação era a pena máxima aplicada pelo Império Romano. A
Carta aos Filipenses interpreta a linguagem da cruz a partir da ideia de
‘esvaziamento’. “Mas esvaziou-se a si
mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana” (Fl 2,
7). Portanto, a linguagem da cruz deve nos ensinar dois aspectos da fé: a) A
morte de Jesus não foi aparente, foi verdadeira, ele foi humano em tudo; b) A cruz
que era escândalo se torna instrumento de superação com a fé na ressurreição. O
sofrimento e a superação fazem parte dos altos e baixos da fé, todo cristão
deve abraçar esta realidade. Não há cristianismo sem cruz, mas não podemos
também parar na cruz sem a ressurreição e tornar esta cena simplesmente um
motivo para converter outros pela culpa.
Enfim,
recordemos a homilia do papa Francisco no último dia 14 de março no encontro
com os cardeais: “Quando caminhamos sem a
cruz, quando edificamos sem a cruz e quando confessamos um Cristo sem cruz, não
somos discípulos do Senhor”.[1] Não importa a
posição que você representa na Igreja, mas a confissão da fé não pode se
reduzir a uma terapia ilusória que esconda a linguagem da cruz.
Este
é o cristianismo que temos para anunciar ao mundo pós-moderno, principalmente
aos jovens cujo tema da Campanha da Fraternidade 2013 faz referência a eles: “Fraternidade e Juventude”. O lema é a
resposta que se espera destas novas gerações: “Eis-me aqui, envia-me” (Is 6, 9). Neste sentido, vamos refletir
sobre as sete frases proferidas por Jesus na cruz.
2. Primeira Frase: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lc
23, 34)
Diante daquele clima de crueldade, Jesus se
mantém fiel aos seus preceitos. O momento mais favorável para demonstrar a
coerência moral de um homem é nas situações adversas. Naquele momento da
crucificação, enquanto os soldados sorteiam e repartem as suas vestes, Jesus
recorre ao mandamento do amor, dizendo: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o
que fazem”. O sorteio das vestes torna o momento mais desfavorável ainda à
dor do crucificado. As pessoas agem repartindo a herança do condenado já o
considerando como morto e tudo isso feito na sua presença.
As primeiras palavras de Jesus na cruz
abrem espaço para uma ampla reflexão sobre o perdão. Qual é o limite para se
perdoar alguém? Jesus o faz em uma situação muito extrema. Por muitas vezes, o
Mestre já havia ensinado sobre o perdão. Pedro o interrogou certo dia sobre o
limite para se perdoar alguém, e ouviu como resposta: “Não te digo até sete
vezes, mas até setenta e sete vezes” (Mt 18, 22). O simbolismo do sete é
sempre presente nas Escrituras, não é à toa que estamos proferindo o Sermão das
Sete Palavras. O número sete significa perfeição. Neste caso da resposta de
Jesus a Pedro, estamos falando de totalidade e infinitude. Em outras palavras,
Jesus afirmou que não há limites para perdoar.
O
perdão é certamente a atitude que brota de alguém que aprendeu a dimensão do
amor. O ódio gera cada vez mais violência, portanto, não é sensato pagar ódio
com ódio. Não há dúvidas de que gentileza gera gentileza. Em Mateus 5, Jesus
faz uma revisão dos mandamentos e completa o sentido da Lei ao dizer que
devemos amar nossos inimigos. A expressão é muito dura. Amar os inimigos? Mas
em que sentido nós devemos amá-los? No mesmo texto aparece uma expressão muito
significativa “não resistais ao homem mau” (Mt 5, 39).
Na verdade, temos de acreditar no bem acima
de toda encarnação do mal. Não resistir ao mal quer dizer não responder à
provocação do mal, pagando a ofensa na mesma moeda como prescrevia a Lei do
Talião. Se alguém reconhece alguma ação como má e reage da mesma forma ao ser
ofendido, este alguém se igualou ao mau. Portanto, começará um ciclo de
injustiça sem fim. A vingança acaba por envenenar todo mundo. Amar os inimigos
e orar por eles significa interromper um ciclo de domínio do mal, destruindo-o
com o bem. Muitos preferem ceder ao mal justamente porque este é mais ruidoso,
mais rápido. Destruir é sempre mais fácil porque é negação da vida. Já o bem é lento,
demora mais para ser construído, pois depende de cuidado.
Um cristão não aprende a amar e a perdoar
de modo mágico. Todo ser humano depende de um ritmo para aprender. É amando que
se aprende a amar, é perdoando que se aprende a perdoar. E esta atitude dá
impulso ao ciclo de boas ações. Francisco de Assis, naquela oração atribuída a ele,
diz que “é perdoando que se é perdoado”. Quem se abre à possibilidade de
perdoar, atrairá muito mais amor sobre si.
A
mensagem cristã se sustenta sobre o mandamento do amor. A 1ª Carta de João
afirma “O que ama seu irmão permanece na luz” (1 Jo 2, 10). A imagem que
o autor usa para demonstrar a condição de quem ama é o caminho na luz, o ódio é
semelhante às trevas, ele cega e fecha a direção do nosso caminhar, o destino
do homem. As pessoas que se entregam a uma vida de violência não conseguem
vislumbrar o futuro delas, estão sujeitas a serem vítimas da própria violência
a qualquer momento. Segundo o apóstolo, o cristão é chamado a viver o amor. Pois
o novo mandamento deixado por Jesus é o mandamento do amor: “Dou-vos um novo
mandamento, que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns
aos outros” (Jo 13, 34).
3.
Segunda Frase:
“Em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 43)
Nos Evangelhos o crucificado que reconhece
a inocência de Jesus não recebe nome. Mais tarde várias tradições o
identificaram pelo nome de Dimas[2]. Já o criminoso que
acusou Jesus foi chamado de Gestas. Sem mais seguras condições históricas para
dar nomes a eles, assim os chamaremos. A palavra grega sémeron, usada
para dizer hoje, quer dizer “este dia, hoje mesmo”.
A atitude de Jesus com o criminoso a quem
chamaremos de Dimas nos faz refletir sobre a misericórdia divina. Aquele homem
era realmente um criminoso. No texto bíblico, ele mesmo admite ser culpado. E
assim que ele reconhece a inocência de Jesus e pede para ser lembrado no Reino,
Jesus faz a promessa de introduzi-lo no Paraíso. Portanto, a salvação acontece
“hoje mesmo”. Não importa se ele se arrependeu cedo ou tarde. O tempo dele era
aquele.
Jesus
quando ainda pregava contou uma parábola sobre os trabalhadores da vinha. O dono da vinha saiu chamando trabalhadores
várias horas do dia e combinou com cada um deles um denário. Há trabalhadores
que começaram de manhã e outros chegaram na última hora. O dono pagou a todos o
mesmo salário. Um deles reclamou alegando ter suportado o sol o dia todo e ter
recebido o mesmo salário daqueles que chegaram no fim da tarde. O dono lhe
respondeu: “Meu amigo, não te faço injustiça. Não
contrataste comigo um denário? Toma o que é teu e vai-te. Eu quero dar a este
último tanto quanto a ti. Ou não me é permitido fazer dos meus bens o que me
apraz? Porventura vês com maus olhos que eu seja bom?” (Mt 20, 13-15). Quando nos escandalizamos com a
generosidade de Jesus em perdoar e salvar temos a mesma atitude daquele
trabalhador, estamos com inveja da bondade de Deus. A ele cabe distribuir seus
bens segundo seu coração misericordioso. Na ânsia de julgar nós estabelecemos
critérios no lugar de Deus apontando quem deve ser salvo ou não.
Mas aí na
cruz está a surpresa. A todos é dado um mesmo salário não importa a hora que
pessoa aderiu à fé. Na verdade, Dimas nem teve tempo de demonstrar muitas ações
de sua conversão. A revolução aconteceu interiormente quando ele reconheceu que
Jesus era justo e que podia salvá-lo. E o primeiro passo do processo da
conversão é este. A pregação de Jesus no Evangelho de Marcos inicia com um
duplo imperativo: “Arrependei-vos e crede
no Evangelho” (Mc 1, 15). O verbo grego metanóiete
é muito significativo, que dizer “mude de ideia, mude de pensamento”. Portanto,
esta revolução interior já é o suficiente e o ponto de partida do encontro com
Jesus.
Muitas pessoas no Evangelho operaram esta
revolução ao se encontrar com Jesus. Em
muitas situações Jesus acolheu pessoas excluídas na sociedade da época e as
transformou. Levi ouviu o chamado e logo o seguiu, deixando seu ofício para
trás (Lc 5, 27-32). Zaqueu queria ver Jesus e partir deste encontro ele mudou
de mentalidade e se dispôs a restituir os prejuízos causados aos outros (Lc 19,
1-10). Outro exemplo é o encontro com a samaritana. Aquela mulher se
transformou pelas palavras de Jesus e se tornou testemunha para os seus
conterrâneos (Jo 4, 5-42). Em todos os casos, é claro que Jesus foi criticado
pelos fariseus. Mas sua posição é clara, seu objetivo é buscar os pecadores.
Jesus demonstrou atitude de acolhida, de
perdão e de amor incondicional. A mensagem está clara! Mesmo assim muitos
cristãos hoje se comportam como os fariseus. Eles rejeitam os pecadores e
condenam quem os acolhe. Não se pode pensar hoje um cristianismo sem o
Evangelho encarnado na vida. Temos de acolher as minorias rejeitadas de nossa
sociedade, superando preconceitos e moralismos.
4.
Terceira Frase:
“Mulher, eis aí o teu filho. Filho eis aí a tua Mãe!” (Jo 19, 26-27)
Jesus confiou sua mãe ao discípulo a quem
amava. Ele é identificado no texto
simplesmente como o discípulo amado. A tradição o identificou como João. No
século II, Ireneu de Lião testemunhou a favor desta identificação: “Depois,
João, o discípulo do Senhor, aquele que se reclinou sobre seu peito, também ele
editou o Evangelho enquanto residia em Éfeso da Ásia”[3].
Jesus confia sua mãe ao discípulo, identificando um e outro como mãe e filho. A
tradição cristã mais tarde identificou João como o guardião de Maria e segundo
alguns relatos eles teriam vivido em Éfeso, na Turquia. Onde Maria supostamente
faleceu hoje existe uma capela chamada de Casa de Maria, centro de
peregrinações.
O discípulo amado teve o mérito de receber
Maria em sua companhia justamente pela fidelidade. Enquanto todos os discípulos
se dispersaram, ele permaneceu ao lado de Maria, Maria de Clopas e Maria
Madalena próximo a cruz. Na última ceia, este discípulo estava mais perto de
Jesus e intercedeu por Pedro perguntando a Jesus quem o trairia (Jo 13, 22-26).
Na cena da ressurreição o Discípulo Amado corre junto com Pedro e chega
primeiro para verificar o túmulo vazio. Depois da ressurreição o discípulo
reconhece Jesus no lago de Tiberíades (Jo 21, 7). Portanto, ele esteve presente
em muitos momentos decisivos.
Outro aspecto importante da cena em torno
da cruz é a presença das mulheres. No
Evangelho de João, elas têm um papel muito importante. As únicas pessoas
próximas a Jesus que não o abandonaram na hora da crucificação. O gesto da
entrega de Maria ao discípulo amado revela o cuidado que Jesus tem com sua mãe
até no último momento ele se preocupa com o seu bem-estar. Desta passagem se
aprende o dever do cuidado com a mãe.
5.
Quarta Frase: “Tenho Sede!” (Jo 19, 28)
Enquanto as demais manifestações de
Jesus na cruz dizem respeito a emoções, a expressão “Tenho sede!” indica
uma necessidade fisiológica. Um homem privado da liberdade e da sua dignidade,
preso, maltratado, passou horas sendo exposto a situações extremas. Seu pedido
por água demonstra o peso da condenação, do cansaço do castigo. Ele recebe como
resposta uma esponja embebida de vinagre. E não tem direito nem de matar a
sede.
Quando falamos desta passagem temos de ter
o cuidado para não espiritualizar tudo. É bom ressaltar que Jesus falou de sede
‘corporal’. O direito de ser saciado ao sedento é um direito fundamental assim
como a comida. São as primeiras necessidades! O discurso de Jesus sobre as
obras de misericórdia considera este dever moral. À pergunta sobre “quando
foi que te vimos com fome e te alimentamos, com sede e te demos de beber?”,
Jesus responde “cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais
pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 31-46). Aliás, o Mestre coloca estas
ações como condições para receber o Reino como herança. Portanto, o dever de
saciar os sedentos e os famintos está no cerne da moral do Evangelho.
Segundo um relatório da ONU mais de um
bilhão de pessoas no mundo não têm acesso a uma quantidade mínima aceitável de
água potável. A água possui um rico simbolismo nas Escrituras justamente por
representar um elemento indispensável à vida. A transformação da água em vinho
nas bodas de Caná é um típico exemplo disso. Assim como as águas do batismo. O
mesmo relatório estima que 5,5 bilhões de pessoas poderão não ter acesso à água
limpa em 2025. E em 2050 apenas um quarto da humanidade vai dispor de água para
satisfazer suas necessidades.[4] A escassez de água possui
um fator natural devido à distribuição desigual de água no planeta, mas o fator
econômico agrava mais ainda. Falta no mundo disposição para partilhar, para
cuidar para que todos tenham acessos aos elementos básicos para uma vida digna.
Não temos como pensar uma moral cristã sem o cuidado com o meio ambiente.
6. Quinta Frase: “Meu Deus, meu Deus, por que me
abandonastes?” (Mt 27, 46)
Diante de tanta dor Jesus exclama a Deus
interrogando-o pelo abandono. Sim, esta é uma atitude até comum por parte de um
homem diante da tragédia. Mas em que sentido Jesus entende este “abandono”?
Esta expressão nos remete ao Salmo 22. O Salmo começa assim: “Meu Deus, meu
Deus, por que me abandonaste? As palavras do meu rugir estão longe de me
salvar! Meu Deus, eu grito de dia, e não me respondes, de noite, e nunca tenho
descanso”. É a típica prece de quem está na aflição. Nos versículos
seguintes, depois de descrever sua situação de sofrimento, o salmista diz que
Deus não desprezou o pobre e promete testemunhar suas maravilhas por ouvir quem
a ele recorre. Portanto, é um salmo de um sofredor que tem esperança. O
abandono é um apelo forte a Deus.
Muitas vezes nós impomos aos outros um
conceito de fé que não prevê a angústia, o medo. Aqueles que têm fé não são
privilegiados quanto à isenção do sofrimento. Todos sofrem, a diferença está no
sentido que o sofrimento alcança dentro da totalidade da vida. No Antigo
Testamento, temos a figura de Jó, um homem devoto que experimenta o sofrimento.
Deus compreende os lamentos de Jó. Ele sofre, indaga a razão do sofrimento, mas
permanece temente a Deus. O próprio personagem explica sobre seu lamento: “Se eu falar, a minha dor não cessa, e, calando-me eu, qual é
o meu alívio?” (Jo 16, 6). O sofrimento do
justo não deve se tornar escândalo para os que têm fé. Nós somos acostumados a
buscar a razões para sofrimento, nós moralizamos as causas da dor e queremos
ser isentos dela por causa da fé.
As palavras de
Jesus nos transpõem para esta realidade da fé. O sofrimento é inevitável. Há
dores que temos a obrigação de evitá-las, cuidando da saúde e evitando a
exposição a perigos. Somos conscientes disso. Outras dores surgem de processos
dos quais somos inconscientes ou são consequências de ações nossas que foram
inevitáveis. Pois se não podemos excluir o sofrimento da nossa vida, resta-nos
saber conviver com ele, dando-lhe sentido. Este é o drama de Jesus que se sente
desamparado, mas não perde a esperança, se assim não fosse, ele não teria dito
no seu último suspiro: “Pai, em tuas mãos
entrego meu Espírito”. O grito pelo abandono não dissipa a confiança.
7. Sexta Frase: “Tudo está consumado!” (Jo 19, 30)
Jesus percebe
que não tem mais nada a fazer, diz: “Tudo está consumado!”. A palavra
“consumada” no texto tem o sentido de “terminado, completo, cumprido”. Ou seja,
Jesus fez tudo que tinha de ser feito, cumpriu plenamente o que pretendia.
Principalmente, quando se entende sua morte como cumprimento das profecias. Não
se pode, por outro lado, reduzir o ministério de Jesus à morte na cruz. Neste
sentido, empobreceríamos a teologia da salvação. Tudo em Cristo nos salva: Sua
encarnação, vida, morte e ressurreição. Portanto, a consumação significa ‘fim’ no
sentido de plenitude, de ápice.
Para compreender o sentido do cumprimento
da missão de Jesus nós temos de revisitar seu ministério. Na sinagoga de
Nazaré, Jesus ao ler o profeta Isaías resume todo o seu ministério: “O
Espírito do Senhor está sobre mim e Ele me consagrou para enviar a boa nova aos
pobres, para proclamar a libertação aos presos e, aos cegos, a recuperação da
vista; para dar liberdade aos oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor!”
(Lc 4, 18-19).
Pelo batismo ele é reconhecido como o Filho
Amado e o Espírito de Deus desce sobre ele, autorizando assim a sua missão (Lc
3, 21-22). Ele proclama a boa nova
aos excluídos de Israel curando os cegos, libertando aqueles que estavam presos
no egoísmo, na condição de escravos da Lei ou da própria vontade e proclamou o
ano da graça do Senhor. O seu ato de redenção é o tempo novo da graça, o tempo
propício para a reconciliação entre Deus e os homens; entre homens e homens.
Enfim, o ministério se resume em suas palavras: “Não penseis que vim revogar a Lei e os Profetas. Não vim revogá-los,
mas dar-lhes pleno cumprimento”. (Mt 4, 17).
8. Sétima Frase: “Pai, em tuas mãos entrego o meu
Espírito!” (Lc 23, 46)
Da hora sexta
até a hora nona, o tempo escureceu, o véu do Santuário rasgou-se ao meio. E da
boca de Jesus soou: “Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito”. São as
palavras do Salmo 31: “Tira-me da rede estendida contra mim, pois tu és
minha força; em tuas mãos entrego meu espírito, és tu que resgatas Senhor”
(Sl 31, 5-6). Jesus se abandona em Deus e o entrega a sua sorte, a sua vida nas
mãos dele. Diante da morte, criamos muitas especulações. São reações próprias
da nossa condição humana. A morte é aquele mergulho no desconhecido que causa
espanto em todo mundo.
Diante da obscuridade da morte, Jesus
profere curtas palavras e se abandona em Deus. A atitude de abandono diante da
imensidão do desconhecido é um caminho mais sábio. Muitas vezes durante os
velórios, ficamos explicando a morte demais, criamos motivos, damos menos
esperança aos enlutados e acabamos por aumentar-lhes mais ainda o sofrimento.
Diante da morte o silêncio é a melhor linguagem.
No fundo, diante da morte ressoam as
palavras do apóstolo Paulo: “Agora vemos em espelho e de maneira confusa,
mas, depois, veremos face a face. Agora meu conhecimento é limitado, mas,
depois, conhecerei como sou conhecido” (1 Cor 13, 12). Toda a loucura da
cruz não foi compreendida pelos espectadores da cena da crucificação, somente a
ressurreição ao terceiro dia deu sentido a todo o cenário de desespero e de
fim.
9. Considerações finais
Portanto, a linguagem da cruz como loucura
encontra sua explicação na fé no Ressuscitado. Os discípulos de Emaús antes da notícia da
ressurreição faziam essas indagações e receberam como resposta “Insensatos e
lentos de coração para crer tudo o que os profetas anunciaram” (Lc 245, 25).
E naquele dia, ao repartir o pão os discípulos o reconheceram e compreenderam a
razão de tudo. O sentido do cenário da cruz se completa nas palavras do
apóstolo Paulo: “e, se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa
pregação, como também é inútil a fé que vocês têm” (1 Cor 15, 14). O cristianismo é a religião da cruz, mas de uma
cruz de superação e de vida.
Sermão das Sete Palavras a ser proferido nesta
sexta-feira, 29/03/2013, na
Igreja
Matriz de Conceição de Ipanema. Distribuição: Pastoral da Comunicação.
[1]
Conferir em:
http://www.vatican.va/holy_father/francesco/homilies/2013/documents/papa-francesco_20130314_omelia-cardinali_it.html
[2] O nome do ‘bom ladrão’ aparece
no Evangelho Apócrifo de Nicodemos (século IV) como sendo Dimas. O outro, o
‘mau ladrão’ foi chamado de Gestas.
[3] Conferir em: Adversus Haereses (Contra os Hereges),
III.
[4]
Conferir em:
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/conteudo_261013.shtml